1. Ir ao Brasil, epicentro do vírus da zika, para a Olimpíada.
2. Visitar Istambul, onde oito turistas alemães morreram em um ataque terrorista no mês passado.
3. Viajar pelas estradas da Tailândia.
4. Permanecer em casa para trabalhar no projeto de reforma da casa há muito adiado.
É complicado, mas não se trata de uma pergunta capciosa: não há
resposta errada. A forma de se medir o risco se baseia em fatores
complexos, incluindo pessoais. Mosquitos podem adorar você, o terrorismo
pode ter tocado você diretamente, seu marido pode ser um péssimo
motorista e aquele projeto pode incluir a remoção de amianto.
O
número de americanos que estão fazendo esses cálculos está crescendo:
estamos viajando ao exterior cada vez com mais frequência e para um
número maior de locais, porque nosso mundo globalizado –Starbucks em 65
países!– parece cada vez menor e mais seguro. Até não estar. O vírus da
zika está se espalhando pelas Américas não muito depois da chikungunya
ter infectado milhares de viajantes americanos ali e o ebola ter
assolado a África Ocidental. E não se restringe a doenças: recentes
ataques terroristas visando turistas (Tunísia, Egito, Istambul) e áreas
turísticas (Paris) também tornaram essas decisões mais difíceis.
"Há muita coisa acontecendo no mundo", disse Daniel Durazo, diretor de
comunicações da Allianz Global Assistance USA, que vende seguro para
viagem. "Há muito barulho por aí sobre os riscos de viajar."
Mas geralmente somos terríveis em ajustar o volume.
"O quão assustado você fica trata-se de uma emoção, não de uma
estatística", disse David Ropeik, um consultor de risco e autor de "How
Risky Is It, Really?" (Quão arriscado realmente é? em tradução livre,
não lançado no Brasil). Como atestarão os fãs de casas assombradas,
risco e ser assustado são duas coisas diferentes. Mas como aponta
Ropeik, na batalha entre seu instinto e seu cérebro, seu instinto
vencerá. Uma forma de fazer escolhas sensatas como viajante é empurrar
seu instinto na direção da razão, ao alimentá-lo com informação precisa,
algo que é mais fácil de dizer do que fazer.
Zika e terrorismo
são as mais recentes ameaças em altos decibéis. Mas também há alguns
silêncios ensurdecedores. Por exemplo, você ouve falar muito pouco sobre
a principal causa de mortes não naturais de americanos no exterior:
acidentes com veículos motorizados.
Segundo os mais recentes
números disponibilizados pelo Departamento de Estado, 233 americanos
morreram no exterior em acidentes de carro, ônibus ou moto entre julho
de 2014 e junho de 2015. Outras causas de morte (homicídio, suicídio e
afogamento) também superam em muito o terrorismo. Dezesseis americanos
morreram por "ação terrorista" nesse período, todos, com exceção de
quatro, em lugares que você já sabia que não devem ser visitados: Síria,
Líbia, Afeganistão e Somália.
Até mesmo permanecer nos Estados
Unidos nem sempre protege você. Repetidos estudos mostraram que depois
dos ataques do 11 de Setembro, muitos americanos desistiram de viagens
aéreas, preferindo dirigir, resultando em pelo menos centenas de mortes
adicionais nas estradas. Olhando para trás, teria sido melhor voar. Mas
naquele momento, ninguém sabia dizer se mais aviões seriam sequestrados e
o medo era intenso. "Não saber representa uma vulnerabilidade e
impotência, e isso eleva a precaução instintivamente", disse Ropeik.
Uma espécie de incerteza semelhante está ocorrendo no momento em
relação ao vírus da zika, ajudada por reportagens dramáticas. Algumas
pessoas que conheço até mesmo combinaram o risco potencial do vírus a
mulheres grávidas –ele é suspeito de causar um defeito de nascença
chamado microcefalia– à doença relativamente branda que causa na maioria
das pessoas, se é que chegam a sentir os sintomas.
O antídoto é
boa informação. Os viajantes devem procurar informações específicas
para eles em sites como o dos Centros para Controle e Prevenção de
Doenças (CDC, na sigla em inglês), que orienta mulheres grávidas a não
viajarem, mas limita seus alertas às demais pessoas a se prevenirem
contra picadas de mosquitos, em vez de mudarem seus planos de viagem. O
Departamento de Estado ainda não emitiu nenhum alerta de viagem a
respeito da zika (nem emitiu nenhum alerta a respeito do atual
terrorismo na Europa, apesar de mencionar Istambul em seu alerta sobre a
Turquia, principalmente envolvendo o sudeste do país).
O dr.
Martin Cetron, diretor da Divisão de Migração Global e Quarentena dos
CDC, me disse que mesmo o alerta para mulheres grávidas é baseado em
suspeita, não em elos comprovados.
"Em uma era de incerteza",
ele disse, "é razoável adotar uma abordagem cautelosa e dar um passo
para trás, em vez de adotar uma abordagem desdenhosa de que as
consequências não acontecerão, e perder a oportunidade de proteger os
indivíduos". Mas "também não queremos ir ao outro extremo e dizer que de
agora em diante ninguém deve ir a esses lugares", ele disse.
Se você decidir ficar em casa, tenha em mente que isso traz seus próprios riscos.
"Temos mais medo do que não é familiar do que do que é familiar", disse Ropeik.
Mas enfrentamos riscos de longo e curto prazo todo dia: comendo fast
food, caminhando sob um guindaste e atravessando ruas movimentadas, sem
contar bebendo água contaminada por chumbo.
Arthur Frommer, o
octogenário guru dos guias de viagem, adicionou ainda mais um:
"Recentemente me chamou a atenção o fato de você enfrentar um risco
maior nos Estados Unidos de se deparar com violência envolvendo armas
de fogo do nos destinos populares para as quais as pessoas viajam".
Ele notou que Tim Fischer, um ex-vice-primeiro-ministro da Austrália,
sugeriu recentemente que seu país emitisse um alerta de viagem a
respeito da predominância generalizada de armas de fogo nos Estados
Unidos; o governo não o fez, mas diz aos australianos em seu site
Smartraveller (viajante inteligente): "É preciso estar vigilante para a
possibilidade de crime armado em todas as partes dos Estados Unidos".
Alguns americanos poderiam argumentar que os Estados Unidos são na
verdade mais seguros por causa da ampla presença de armas; logicamente,
eles poderiam optar por adiar uma viagem à Austrália.
Em vez de
suspender uma viagem –ou se tornar um eremita– a melhor forma de
permanecer seguro é reduzir o risco na estrada. Pode ser usando
religiosamente repelente de mosquito na Olimpíada, tomando transporte
público na Nova Zelândia e passando menos tempo nas grandes cidades
europeias e mais nas cidades pequenas.
Outra forma de reduzir
um pouco o risco é atenuar o impacto de crises potenciais ao, digamos,
comprar um seguro de evacuação médica. Manter uma lista dos principais
hospitais e telefones de emergência à mão também ajuda. O aplicativo
gratuito TravelSmart da Allianz coloca essa informação em seu telefone,
apesar de que nos países em desenvolvimento, eu checaria o site
JustLanded.com para o número do serviço privado de ambulância.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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