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domingo, 23 de novembro de 2014

Ruidos-causados-por-troca-de-mensagens-no-celular-irritam-paulistanos

Pense num som irritante: alarme disparando "atenção, este veículo está sendo roubado", buzina de motos pedindo passagem, caixa-d'água enchendo de madrugada ou zumbido de pernilongo dando rasante na orelha.
A lista de barulhos urbanos que incomodam os paulistanos ganhou mais um reforço: o ruído da vez é aquele emitido no troca-troca de mensagens pelo celular em SMS ou em aplicativos.
"O som do WhatsApp lembra um apito de trem infantil. Só que de meigo não tem nada", descreve a confeiteira Giuliana Cupini, 39, que, há 20 dias, surtou por causa de um barulhinho desses.
Com os olhos na massa do bolo e as mãos na tela do smartphone, ela respondia a uma sucessão de mensagens dos seis grupos dos quais participam cerca de cem amigos, cada uma delas avisada por um daqueles sinais sonoros.
Karime Xavier/Folhapress
"O som do WhatsApp lembra um apito de trem infantil", diz a confeiteira Giuliana Cupini, 39, que surtou por causa do barulhinho
"O som do WhatsApp lembra um apito de trem infantil", diz a confeiteira Giuliana Cupini, 39, que surtou por causa do barulhinho
Para piorar a situação, as pessoas do outro lado da linha dividiam as frases em palavras, enviadas separadamente, o que gerou um "baita apitaço" e acabou de vez com a paciência de Giuliana.
Num surto de fúria high-tech, arremessou o iPhone 4S para longe da cozinha. Ele caiu de quina. No impacto, o canto inferior direito quebrou, e a tela estilhaçou-se.
No dia seguinte, circulou entre os funcionários de sua empresa um regulamento interno, que proíbe o uso de aplicativos com o volume ligado durante o expediente.
Em São Paulo, onde as pessoas vivem no limite da explosão, o simples barulho do envio de mensagens do celular pode funcionar, segundo o psicanalista Jorge Forbes, como "uma gota d'água no desencadeamento do ódio".
Forbes diz que as pessoas não querem perder nada e, por isso, sentem a necessidade de estarem conectadas a todo momento até mesmo quando estão num restaurante, no cinema ou numa reunião. "Mas essa conexão nos torna escravos da expectativa. Isso porque a distância que separa o 'estar ligado' do vigiar é muito tênue e preencher a expectativa do outro desencadeia angústia."
Diante do crescimento dos smartphones no Brasil, país com 128 milhões de linhas 3G e 4,1 milhões de 4G, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações, o apito encontra espaço para proliferar.
FLAUTAS E SAGUIS
Estima-se que ao menos 38 milhões de brasileiros usem o aplicativo de mensagem WhatsApp, que se tornou, nas palavras do empresário Antonio Henrique Afonso Júnior, 51, o "novo Facebook". Ele pegou birra do ruído.
Mantém o som do aparelho desligado e o celular de bruços. "Quando aquele símbolo verdinho aparece, é uma tentação", diz o empresário, que participa de uma dezena de grupos, que reúnem 200 pessoas, entre amigos, familiares e equipes de trabalho. "O WhatsApp está criando a geração do senso de urgência, como se todas as mensagens requeressem uma solução imediata. Ainda mais agora com o recurso que avisa quando elas são lidas."
Da padoca ao cinema, da firma ao restaurante, o som está ao redor. Em uma apresentação de mímica, arte na qual o silêncio contribui para a performance, o "apito do trem infantil" colocou Alessandro Azevedo, 46, numa saia justa no momento em que ele incorporava seu personagem, o palhaço Charles, num sarau, em Pinheiros. "Teve gente que achou que o barulho do WhatsApp fazia parte do espetáculo", lembra. "Na verdade, quebrou a expectativa, o clima", diz ele.
Karime Xavier/Folhapress
Barulho do WhatsApp atrapalhou o ator Alessandro Azevedo, 46, durante um espetáculo
Barulho do WhatsApp atrapalhou o ator Alessandro Azevedo, 46, durante um espetáculo
O fato ecoou no seu dia a dia. Hoje, até mesmo um celular vibrando o incomoda. Sugere que o "muoommm" do WhatsApp seja substituído pelo som de uma flauta.
Paraibano da pequenina Puxinanã, cidade com 13 mil habitantes, ele confessa que anda incomodado demais com a sonoridade incessante da mais barulhenta entre as metrópoles brasileiras.
Na casa onde mora, na Vila Madalena, há um quintal apinhado de árvores, muitas delas frutíferas, que acolhem pássaros e até saguis. Lá promovem um outro tipo de barulheira. Desta, os ouvidos do palhaço acham graça.













http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/11/1552035-ruidos-causados-por-troca-de-mensagens-no-celular-irritam-paulistanos.shtml

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